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Criando crianças antirracistas para o mundo

Postado em: 19 de maio de 2022

Durante toda a infância, as crianças estão em processo de desenvolvimento cultural e social. Nesse período, pais, mães e responsáveis devem ter atenção às influências recebidas, com a intenção de criar jovens justos, respeitosos e empáticos. Adotar atitudes contrárias ao racismo faz parte desse processo. 

O antirracismo exige que você saia da posição de neutralidade e adote uma postura contra a desigualdade racial e o preconceito. Isso pode ser feito dentro de casa, com diálogo e bons exemplos de comportamento. Conheça aqui alguma dicas de como a sua família pode, aos poucos, contribuir para um mundo mais igualitário:

Racismo e linguagem

A linguagem que utilizamos no cotidiano vai muito além da comunicação: a linguagem é o reflexo da cultura de um povo. Dentre os indícios mais claros de que vivemos em uma sociedade racista está o uso de determinadas expressões, que podem parecer inofensivas mas, no fundo, são desrespeitosas e até ofensivas.

Entenda o porquê algumas expressões devem ser extintas da língua portuguesa:

  • Cor de pele: o lápis “cor de pele” costuma ser o bege ou rosa claro, mas só existem peles dessas cores? Ensine o nome correto das cores e explique que cada pessoa tem um tom de pele diferente, o que contribui para uma sociedade diversa e plural.
  • Cabelo ruim: não existe nenhum cabelo “ruim”. Existem cabelos de diferentes texturas, como liso, cacheado, ondulado e crespo. Todos são bonitos!
  • Ovelha negra: essa expressão refere-se a uma pessoa diferente das demais, que não é tão valiosa quanto as ovelhas de pelagem branca. Ocorre a associação entre a cor e a desvalorização da pessoa.
  • Denegrir: o verbo denegrir, em sentido literal, significa tornar algo negro. Você pode substituir pelas palavras rebaixar, difamar ou desonrar, por exemplo. Evite vincular a cor à uma ação negativa.
  • Inveja branca: a inveja é um sentimento indesejado, que teoricamente seria atenuado pela colocação da palavra “branca”. Sugere que a inveja (um sentimento ruim) seria escura, ou negra.
  • Doméstica: essa palavra tem origem no Brasil colonial, quando pessoas escravizadas seriam “domesticadas” para trabalhar na arrumação das residências. É melhor utilizar os termos faxineira, diarista ou funcionária, que não apresentam essa conotação negativa do serviço prestado.

Rejeite piadas preconceituosas

É comum que o racismo esteja disfarçado sob a desculpa de piadas ou de histórias “sem más intenções”. A verdade é que esse tipo de “humor” é apenas mais um ferramenta do racismo estrutural, que enfraquece a luta por igualdade e é, sim!, preconceituoso.

Deixar de reproduzir piadas racistas é o básico para ter um comportamento antirracista. É necessário, também, manifestar-se contra essa reprodução, caso ocorra. Assim, se um amigo ou familiar tem falas racistas, saia da zona de conforto e aceitação, mostre que a piada não é engraçada e explique às crianças que esse tipo de fala reforça estereótipos negativos.

Consuma entretenimento com (e de) pessoas negras

Mais da metade da população do Brasil se considera negra, mas, mesmo assim, há muitos mais artistas brancos na TV, nos filmes e até na literatura. A expectativa é de que esse cenário mude, de forma a realmente refletir a sociedade brasileira e representar não apenas pessoas negras, como também asiáticas, indígenas e de outras minorias sociais.

Enquanto isso, é importante oferecer à criança produtos culturais cujos autores e personagens não sejam apenas pessoas brancas. O entretenimento e a literatura têm um papel relevante no imaginário infantil, com o potencial de criar ou reforçar ideias e até a própria visão de mundo dos jovens. Assim, a representatividade é importante para demonstrar as diferenças que compõem o mundo, quebrar estereótipos e criar novas possibilidades na imaginação. 

Você pode falar também sobre diferentes etnias e culturas, e celebrá-las! Expanda a bagagem cultural deles, mostrando que a diversidade deve ser valorizada.

Seja um exemplo

Na infância, criamos modelos sociais e aprendemos a partir de exemplos. Principalmente até os cinco anos de idade, as crianças imitam comportamentos vistos nos adultos. Por isso, pais e responsáveis têm um papel fundamental na educação de crianças antirracistas.

Ensinar sobre racismo e privilégio não tem nenhum efeito se seu comportamento diário não reflete esse ensinamento. Assim, condenar falas racistas e consumir entretenimento de pessoas de diferentes etnias devem ser atitudes do seu cotidiano.

Posso falar de racismo com as crianças?

Muitas vezes ouvimos discursos sobre como as crianças são puras e não enxergam a cor da pele, mas a verdade é que elas estão em constante aprendizado e podem sim aprender a serem racistas desde cedo. Conversar sobre igualdade, justiça e racismo é possível, utilizando uma linguagem adequada.

Assim, explique que a população negra possui indicadores sociais em geral menores que os da população branca e que isso é uma herança histórica do Brasil escravagista. Fale sobre a desigualdade racial e sobre como a competência individual não tem nada a ver com isso. Explique que algumas pessoas têm privilégios, enquanto outras têm pouquíssimas oportunidades.

Para contribuir em uma mudança real na sociedade, é preciso ser antirracista. No caso dos pais, atitudes antirracistas formam filhos mais conscientes e justos, que no futuro podem construir um mundo melhor. Pessoas brancas devem reconhecer a posição de privilégio que ocupam, utilizando-a para posicionar-se contra a estrutura racista que nos cerca.

Quer conhecer outras formas de criar seres-humanos capazes de contribuir na formação de uma sociedade mais igualitária e justa? Acompanhe o nosso blog!